A Delegacia de Investigações Criminais (DIC) de Laguna finalizou, nesta sexta-feira (25), uma investigação que revelou um sofisticado esquema de corrupção eleitoral nas eleições municipais de 2024. Nomeado como ‘Tempus Veritatis’, o inquérito policial, que reúne cerca de 5 mil páginas de provas técnicas e testemunhais, é considerado um dos mais complexos já conduzidos pela unidade.
Durante meses de apuração, 70 pessoas foram ouvidas, dezenas de aparelhos eletrônicos foram periciados e houve análise de Relatórios de Inteligência Financeira. Ao todo, foram identificados indícios de 55 crimes eleitorais e conexos. Por questões legais, os nomes dos investigados não foram divulgados, e os autos permanecem em sigilo.
A investigação apontou o funcionamento de uma organização dividida em três eixos principais:
Movimentações financeiras suspeitas
O eixo financeiro do esquema teria movimentado mais de R$ 1,7 milhão durante o período eleitoral. Um dos empresários investigados realizou transferências que somam mais de R$ 734,9 mil a diversas contas ligadas ao grupo. Um aspecto crítico revelado pela análise financeira foi a incompatibilidade patrimonial de até 17.432% entre rendas declaradas e valores movimentados por alguns dos investigados. Em vários casos, houve incompatibilidade entre os valores movimentados e os rendimentos declarados à Justiça Eleitoral. Um dos investigados, responsável pela parte jurídica de uma campanha, declarou apenas R$ 2.600, mas movimentou mais de R$ 302 mil no mesmo período.
Compra de votos e ocultação de operações
A parte operacional do grupo envolvia distribuição de dinheiro em espécie e o uso de imóveis como centros de operação. Os responsáveis elaboraram listas com nomes de eleitores e utilizaram a técnica conhecida como “smurfing” — que consiste em realizar saques em valores fracionados para evitar fiscalização — sacando, por exemplo, quantias de R$ 49 mil, abaixo do limite que exige comunicação obrigatória – R$ 50 mil. Mensagens recuperadas de celulares apreendidos confirmam a prática da compra de votos.
Vantagens materiais em troca de apoio
Além do dinheiro em espécie, eleitores teriam recebido benefícios materiais em troca de apoio. A polícia identificou o uso de um caminhão para entrega de materiais de construção como brita, areia e aterro em residências específicas. Também foram distribuídos vales-alimentação, que somavam cerca de R$ 6 mil, por meio de um estabelecimento comercial local, além de promessas de serviços públicos, como reparos na iluminação de ruas.
Indiciamentos e próximos passos
Com base nas provas reunidas, 14 pessoas foram indiciadas pelos crimes de corrupção eleitoral, associação criminosa e falsidade ideológica eleitoral (caixa dois). Entre os indiciados estão um empresário do setor imobiliário e de mineração, um policial militar, um advogado com atuação na área eleitoral, um candidato ao Executivo municipal, servidores públicos e candidatos a vereador.
O inquérito será agora encaminhado ao Ministério Público Eleitoral, que avaliará as medidas a serem tomadas judicialmente.
