O longa-metragem nacional “Vou Nadar Até Você”, que marca a estreia da atriz Bruna Marquezine nos cinemas, está disponível nos principais canais streaming desde maio do ano passado. Distribuído pela Elo Company, a obra, que integrou a seleção do Festival de Cinema de Gramado em 2019, é dirigida pelo fotógrafo Klaus Mitteldorf, que também é sócio produtor com a Norami Filmes, junto com a produtora Coração de Selva.
Gravado, propositalmente, com o pano de fundo da Rodovia Rio Santos, entre o Rio de Janeiro e o litoral paulista, “Vou Nadar Até Você” conta a história de Ophelia (Bruna Marquezine), que descobre o paradeiro de Tedesco (Peter Ketnath), o pai alemão que nunca conheceu e com quem divide a paixão pela fotografia.
A jovem envia a ele uma carta contando sua história e decide encontrá-lo numa jornada a nado. No caminho, a pedido de Tedesco, a personagem é seguida por Smutter (Fernando Alves Pinto), rapaz com quem seu pai possui uma estranha relação. O elenco conta ainda com nomes como Ondina Clais (O Filme da Minha Vida), Dan Stulbach (O Vendedor de Sonhos), e a atriz, apresentadora e jornalista, Cristina Prochaska.
Dez anos de produção, três dias no cinema: Cristina Prochaska conta um pouco da sua participação e sobre a inspiração do longa metragem
O longa-metragem “Vou nadar até você” levou 10 anos para ser produzido. No início, com o título de “Rio Santos”, a ideia era mostrar o quanto a via localizada entre os dois estados representou para cariocas e paulistas, principalmente, para quem já pegava onda. A trilha sonora é cantada pela filha de Klaus Mitteldorf, Luiza.
Ali, também, novas fronteiras se abriram para esporte, levando surfistas da região Sudeste do Brasil, em direção não apenas a outras praias desconhecidas dos dois estados como também para o Norte e Sul do Brasil. No percurso, um percalço: a pandemia de Covid-19 afetou diretamente a produção, bem como sua estreia.
“Nós lançamos o filme três dias antes dos cinemas fecharem por mais de 19 meses. Perdemos o timing da estreia em um filme que levamos 10 anos construindo. Você leva anos construindo um projeto e foi muito frustrante“, disse Prochaska.
Cristina é atriz, apresentadora de televisão e jornalista, e fez parte do elenco a convite de Klaus Mitteldorf, não apenas por sua experiência, mas por ter vivido no meio da galera do surf ainda nos anos 70. A além de surfista – uma das primeiras do país -, ela esteve aqui pelo sul de Santa Catarina naquela época, aportou em Imbituba diversas vezes, bem como pelas praias de Garopaba e a Guarda do Embaú.
Terral: O primeiro filme de surf brasileiro deu luz ao longa
Desde Ubatuba (SP), a ideia era curtir a vida e o surf. “Saudades desse pedaço do mundo tão importante pra mim“, conta ela sobre Imbituba. Segundo Prochaska, a ideia do “Vou nadar até você” é reeditar o filme Terral, o primeiro filme de surf brasileiro, gravado em Super 8, uma espécie de câmara filmadora, e também produzido por Mitteldorf, ainda em 1975.
“Durante a construção da Rio Santos, houve o mix do pessoal do Rio e de São Paulo. Nós tínhamos como referência o sul. Tanto os cariocas como os paulistas, durante os festivais de surf aqui de Ubatuba, em Itamanbuca, bem como em Saquarema, no Rio de Janeiro, nos juntávamos e íamos pro Sul, primeiro Imbituba, até quando instalaram aquela indústria, depois, no Rosa, na Silveira. ‘Vou nadar até você’ é fruto do Terral. Tem cenas da gente em Imbituba. No Rosa, encalhados no fusca do Serginho Richter, e a gente na casa do Bento Xavier, e o Paulinho Sefton andando de skat. E o Ricardo ‘Mico’ Sefton pedindo nossas pranchas emprestadas” (risos), conta Cristina.
Surfando até hoje, os protagonistas daquelas aventuras continuam unidos.
“Eu to falando do final dos anos 70, até oitenta e poucos. A gente pegava os carros e ia pro sul. A Kombi do Bruzzi tem muita história, ih, tem tanta história. E esta turma ficou amiga, hoje todos acima dos 60 anos, o Klaus perto dos 70 anos, ainda surfando, eu ainda surfando, todos ainda surfando. Um filme ciganamente produzido… uma caravana“, finaliza.
Klaus Mitteldorf: “Cada personagem que a gente criou tem um pouco de mim”
Klaus Mitteldorf foi pioneiro e contemporâneo em tudo que fez, desde seu trabalho com fotografia e tratamento de imagens até sua vida e suas amizades cercada de aventuras e muita disposição. Quem, com pouco mais de 30 anos, não lembra dos anúncios da marca 775 nas principais revistas do Brasil, principalmente, voltadas para o público jovem, como a Revista Fluir, por exemplo.
“Em 2009, eu e minha sócia, Patrícia Ermel, uma amiga que gostava de escrever roteiros e argumentos, sentamos durante um ano pra escrever a história, chamado à época de Rio Santos. E os personagens que a gente criou têm muito a ver com a minha história, com o que eu vivi. Cada um tem um pouquinho de mim”, revela Klaus sobre o filme.
Quando perguntado sobre a relação que um dos personagens principais, o Tedesco, tem com Klaus, e o filme Terral, Klaus reafirma conexões pessoais.
“Tedesco tem uma boa parte da minha personalidade, das minhas características, ele tinha na memória as imagens que eu fiz para o filme Terral. E, com essas imagens, ele nunca tinha descoberto quem eram as pessoas que ele filmou e fotografou na época que fez o documentário. Ele, então, se isolou numa casa no alto de um morro para entrevistar e conhecer estas pessoas”, explica.
As dificuldades para gravar o filme foram enormes. Em 2011, um problema societário na produtora que abraçava o filme interrompeu as gravações. Segundo o diretor, na transição de 2014 para 2015, o filme chegou à produtora Coração da Selva, que assumiu a responsabilidade de fazer o filme, gostou do projeto. As filmagens só foram retomadas em 2016.
“A escolha dos atores demorou meses. O Peter Ketnath teve uma experiência grande no Brasil, eu o conheci no Festival de Cinema de Berlin, em 2013, e desde o começo me despertava a impressão de ser a pessoa perfeita para incorporar o personagem. O Smutter é um cara que eu já conhecia há muito tempo, pessoa perfeita pra incorporar este personagem”, conta Mitteldorf.
Sobre a atriz principal, Klaus denota toda a emoção do filme.
“A Ophelia, eu acabei escolhendo pela novela que a Bruna Marquezine fez na época, e achei que a idade e a ingenuidade dela, o jeito de agir, eram perfeitos, naquele momento, para Ophelia. Eu fui conversar com ela um dia no Rio, num sushi, e dois dias depois ela deu o ‘ok’. E eu fiquei muito feliz com isso, pois era um filme muito mais de arte, do que um filme comercial, e ela entendeu a proposta. A grande sorte, minha e do filme, foi ter uma atriz como a Bruna Maquezine. Ela incorporou o papel da Ophelia tão forte e tão espirituosamente, ela ficou perfeita, que era exatamente o que precisava pra fazer este personagem. Cada personagem que a gente, eu e a Patrícia, criamos tem um pouco de mim. Cada um da sua maneira. E cada um com sua visão de mundo. Mas no final optamos em ter um personagem principal em torno do qual gira toda história: Ophelia”, conta Mitteldorf.
E vem mais por ai, segundo Klaus Mitteldorf: ‘Verão da Lata’
O longa será apresentado no Festival Internacional de Cinema de Surf de Ubatuba – FICSU -, no litoral paulista, atualmente o maior festival de longas, médios e curtas metragens no país. A praia Vermelha será o palco para apresentação de alguns dos melhores filmes de surf do momento, que teve sua primeira edição em 2019, voltando agora após a pandemia.
“Queria agradecer a todos que participaram deste filme. A Ondina Clais, a Cristina Prochaska, que fez muito pelo filme, ao Peter Ketnath, que se propôs a ser o produtor na parte alemã do filme, em Stuttgart, na Alemanhã, a toda equipe de produção, aos atores, todo mundo deu um a mais de si. E, por isso, virou um filme: simples, belo e inspirador”, finaliza Klaus Mitteldorf.
Para saber mais sobre o FICSU, clique aqui.
Filme: Vou Nadar Até Você;
Direção: Klaus Mitteldorf;
Produção: Direção da Silva;
Produção executiva: Georgia Costa Araújo;
Produtoras associadas: Norami Filmes, Mar Filmes e Fox.