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“Respeito é bom!”: Confira o novo e tenebroso “causo” do escritor imbitubense Dario Cabral Neto, sobre desdém às almas vítimas de afogamento

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Respeito é Bom!Agosto, mês de frio, porém de água clara e quente. Podíamos achar algumas tainhas perdidas nos costões da Ilha de Terra. Seu Vadinho e meu pai seguiam de batera para pescar os marimbás de fundo. Tarrafa grossa, boa medida de fieira, e, com a ajuda da batera, seria fácil desenroscar das pedras.  Aquele inverno de 1976 foi marcado por algumas mortes por afogamento, perdas irremediáveis e famílias em prantos. Alguns diziam que era mau agouro sair para pescar depois de tantas mortes. Pior ainda era consumir os peixes da região.Levando em conta as correntes e a lestada do caminho náutico do litoral, Seu Vadinho sabia que nenhum daqueles três desafortunados que estariam por ali seriam devolvidos lá para as bandas de Laguna.Arrastar a batera era brincadeira de criança. Feita de garapuvu branco, pesava que nem pluma, colocados os balaios, a poita de pedra com seu cabo de 30 metros, estavam prontos. Meu pai, o Bina, no remo Seu Vadinho na tarrafa, ainda fiquei vendo-os contornarem o portinho da Ilha, só depois saí.Na praia vinham dois pescadores amadores, também com tarrafas, tentar a sorte no canto e levar uma ou mais tainhas para casa. Não era como hoje, de nem safra parecer ter. A tainha tá sumindo. Pois bem, vinham conversando e rindo, coisa que acho ser afronta e desrespeito às almas perdidas no canto. Pescar tudo bem, prestar silêncio melhor ainda.Passaram pelo ponto de risco, onde morava a Dona Rosinha e seus cães infernais, magrelos, mas bravos. Era um olhar para frente e quando se virava para ter certeza lá vinham uns quinze em disparada e o recurso era entrar na água, o que foi feito. Escaparam dos dentes e como se não bastasse tiravam onda da situação.Chegaram ao canto, colocaram os gongás numa das pedras, desfizeram os nós das tarrafas, um deles se serve de um gole de pinga, o outro recusa. Olham a água que se avoluma na cheia, espuma cobrindo a pedra do Alemão. E a pontinha, só o calombo ficava aparecendo no vai e vem das águas. O mais velho deles atira a tarrafa para além da pedra da Baleia, livrando de duas outras menores que, submersas, faria um bom estrago na rede. Chuleia daqui e dali, sente que alguma coisa bateu no rufo e, muita manha depois, consegue ver duas ‘meias tainhas’ presas. A sorte sorri a princípio, motivando o mais novo a fazer o mesmo, só que mais adiante, depois da pedra do Alemão. “Paneia”, divide, pesa, arremessa e um círculo perfeito estala na água, nada sente, só um calafrio na espinha, acha que é da água, não dá bola, recolhe a tarrafa e vem em terra.Tem coisa que deve ser entendida no primeiro sinal, um arrepio, o cabelo eriçado, aquele ronco nas tripas descendo acelerado, tudo sinal que se deve ficar atento. Negligenciar é algo que não se deve fazer. Mas foi feito. A cachaça fez efeito, aqueceu e com isso o esquecimento deste alerta, tantas tarrafadas para tão pouco peixe e a má sorte crescia. Desatento, o mais jovem deles foi se aproximando da pontinha, girou o corpo e atirou a tarrafa, como sempre aberta na sua perfeição. Segundos depois solta um grito em agonia, chacoalha o corpo como quem tenta se livrar de algo pesado. Um gelo crescente juntava-se aos gritos…O mais velho via que um rapaz acocorado no calombo da pontinha pedia socorro sem parar. Quando o amigo deu-lhe as costas, ainda viu o rapaz se atirar e grudar-se no pescador. Sabia que não era real, sabia se tratar do espírito de daqueles desafortunados, sabia que deveria fazer alguma coisa; mas o quê?Desespero e agonia, um sofria as consequências do desrespeito, o outro apavorado sem saber o que fazer, nada fez, até que se livrando do fardo o mais jovem pareceu ver um vulto que se entregava às águas, indo pouco a pouco para o fundo e levado pela corrente apenas ecoava seu grito de socorro.Correria na praia, acode um e o outro desmaia, chama alguém que tenha carro, ninguém tinha; colocados sobre uma pedra, logo sumiram as meias tainhas, levaram-nas não se sabe como. Para piorar a agonia dos dois, quando embora foram,  tiveram que enfrentar os cachorros da dona Rosinha Saruga, corriam os dois sem fazer bagunça, só sair daquele canto mau assombrado.Aponta a batera no canal e vem meu pai no remo e Seu Vadinho de patrão, silêncio a bordo, dá remo com força, geme de um lado e remo na popa, leme e direção, passam na pontinha e arrasta o fundo na areia, alivia-se dos calos meu pai, sorri satisfeito Seu Vadinho.Eu convocado à força, retiro os balaios com peixes até a boca, depois conto o que aconteceu para eles que se olham de canto, não crendo no que falei, quem sabe, Seu Vadinho percebera que tinha aprendido com ele a contar histórias.Olhei de relance e vi que o fantasma do rapaz estava sentado na proa da batera, Seu Vadinho estava do lado, não via. Falei que por ele não crer, podia dar boa noite para o defunto, Seu Vadinho deu um salto, que gato teria inveja, meu pai largou os remos e não sei por que foi ligeiro para o rancho, eu lá tinha mais trabalho, levar balaio e remos para casa. Seu Vadinho? Bom! Vi que havia um risco de areia que se elevava enquanto ele corria. Não deu tempo de chamá-lo de corajoso.Acreditem, nunca se vai à praia tirando onda em ocasião de perdas em afogamento.Dá um azar danado. 

__________________________________________________________________________________SOBRE O COLUNISTA: Com 45 anos dedicados a criação de histórias e a produção de livros, Dario Cabral da Silva Neto, de 60 anos escreve poesias e se dedica ao desenvolvimento de romances. Dos 21 títulos já escritos, nove foram publicados, o mais recente “Redescobrindo a Vida”.Entre 1973 e 2000, Dario era, exclusivamente, poeta, mas em 2000, decidiu se transformar em romancista. Entre as surpreendentes obras, que são vendidas por R$ 30, estão os clássicos Catador de Sonhos, Uma Questão de Amor, A Ravina, Pétalas de Amor, O Segredo de Melissa e a Caminhada do Zé Mundão.Os livros escritos por Dario não têm foco religioso, mas trazem mensagens espiritualizadas. Para adquirir as obras de Dario basta realizar contato com o escritor pelo Messenger do Facebook (in box) ou pelo telefone (48) 999378198. 

Opinião:
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal AHora

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