Verão de 1975 foi de maravilhas para todos que estavam em Imbituba. Época mágica, ondas grandes, água clara e quente atraiam turistas aos montes. Todos ganhavam, acrescento que todos os nomes aqui descritos são ou conhecidos ou fictícios.
Acordar ao raiar do sol era prática. Ir ver se o canal da ilha de terra estava adequado para travessia ou se teria dar algumas braçadas, isto requer certos preparativos como saco plástico para roupa seca, boia para o balaio e fieira para prender tudo no caniço de bambu. Visto e certo da travessia sem molhar a roupa, volto para meu café da manhã, pão caseiro, pesado, uma fatia era suficiente.
Meu pai saindo para o trabalho no tráfego do porto, (movimento de navios). Seu Vadinho arrastando seus tamancos vinha descendo o barranco onde hoje é o estacionamento do Canto. Engraçado como tudo ficou perto – da Cooperativa do Porto até o Rancho era um sufoco, ou seria porque trazia no ombro um saco com 60 quilos de farinha?
A areia quente pelando a sola do pé, o cabo de aço fazendo fronteira das áreas Portuária e de Marinha, comoros de areia com alguns pés de girassóis anão, e os temidos vira latas da Dona Rosinha, 200 metros aproximadamente, mas uma aventura diária.
Seu Vadinho abre o rancho pequeno e arrasta a batera “Catalina” para fora a levando até meia praia. Ajudo no que é preciso ajudar. Seu Vadinho era fonte rica de conhecimento científico do pescador, era minha fonte de conhecimento.
Sentamos no carretão da batera e ficamos conversando. O assunto rolou entre a força dos ventos e como a lua interferia na maré, e esta na pescaria. Papo vai e papo vem, ele perguntou se havia me contado o que aconteceu no quarto 37 do Hotel Grande e, nesta mistura de assuntos que era peculiar nele, o olhei com curiosidade.
– Há alguns anos um turista se hospedou ali e ficava passeando por estas bandas. Chegava e se apresentava, conversava e se despedia sempre sorrindo, quando virava para ir embora colocava dois dedos na aba do chapéu de palha – Começou Seu Vadinho a contar a História.
– Era sempre assim? Metia-se na conversa dos outros e depois ia embora? Pergunto com minha característica grosseria, (risos)
– Calma, sou eu quem esta contando a história e não você, mas voltando ao assunto em questão, certo dia aconteceu que ele não apareceu, assim, por dias seguidos, caso que deu estranheza nas pessoas que já tinham nele um amigo. Mais tarde alguns se propuseram a ir ao Hotel Grande perguntar por ele.
– E… O que aconteceu? Questionei mais ponderado.
– O rapaz que atendia ficou doente e o que ficou no lugar dele não sabia de nada. Questionaram se não havia registro, o rapaz pensou e pensou e falou que no outro dia teria a resposta. Volta o grupo de pessoas aflitas com o desaparecimento do dito cujo hospede do 37.
O gerente tinha viajado e nada podia fazer. Assim, este caso virou um mistério. A especulação fazia parte das rodas de conversas, uns diziam que era um fantasma que aparecia na praia e depois sumia. Assim começou a se espalhar que o Hotel tinha um fantasma.
Resolveu-se ir ter com o Seu Delegado, um homem estranho moldado nas lidas dos crimes. Era de poucos amigos e com uma fama terrível. Não foi fácil escolher quem iria a delegacia falar com o Tonhão “Três Esporas”. “Nunca ri tanto do Ambrósio, você conhece né?”, perguntou-me Seu Vadinho.
Respondi que sim; senão a história seria interrompida e nunca contada.
Bom, ele foi e chegando lá pediu para falar com o Delegado Tonhão, o Cabo olhou para ele e Ambrósio deu mais uma encolhida, sendo pequeno na estatura e com fama de medroso, estava a ponto de borrar as calças.
Ambrósio bateu de leve na porta do Delegado, ouviu aquela voz grossa dizendo: “Entre”. Ele entrou e como contou depois para nós, eu estou lhe contando.
– Senhor Delegado, Tonhão, eu estou representando um grupo de amigos e venho fazer queixa do desaparecimento de um hóspede do Hotel Grande. Ninguém sabe onde ele está, por isto estou aqui. O Senhor pode nos ajudar?
– Hum… Vou dar uma espiada no Hotel e depois vou falar com vocês. Deixa teu endereço com o Cabo Boró e está dispensado.
Ambrósio não sabia explicar o porquê daquele arrepio que nasce no valo da bunda e só termina na nuca, mas, sair dali era o que mais desejava. Nem o Cabo Boró e muito menos o Delegado agradaram a ele como pessoas.
“Ficou na mesma merda”, falei.
– “Olha a boca, respeita minha história”, advertiu Seu Vadinho.
– “Desculpe!” Só falei para ele continuar, já estava dando nos nervos.
– Parece que ficou, mas não ficou. Os outros amigos começaram a fazer cartazes de procura-se, mas nada fazia aparecer uma pista. Procuraram uma parteira que era também adivinha e jurou que ele estava perto. Amimados começaram a procurar, até que uma das filhas da mulher do primo do cunhado do tio de Ambrósio falou…
– Já tentaram ir ao quarto dele?
– Todos se olharam e assim ficaram, minutos silenciosos transcorreram e o som da vida com seus barulhos e tudo mais começou a repovoar suas mentes.
– E eles foram ao quarto ver se encontravam pistas? Perguntei.
– Foram sim e lá, o rapaz do dia anterior estava conversando com o rapaz substituto, abordaram e perguntaram se podiam ir ao quarto 37, ver se encontravam alguma evidência nova do sumiço do turista sem nome.
No mesmo tempo chegou o Seu Delegado Tonhão com o Cabo Boró a tira colo, fazendo panca de mau. O grupo ficou meio assim, sabe, sem saber o que fazer, mas resolveram convidar o Seu Delegado a acompanhá-los.
Os passos ecoavam no corredor do Hotel Grande, 32,33,34,35,36 enfim o 37, porta fechada por dentro, e agora? Bateram e bateram mais forte, ouviu-se um som de passos; o Seu Delegado olhou para o grupo que começou a ficar com cara de taxo, mais passos, mais olhadelas do Delegado Tonhão e o Cabo colocou a mão no cassetete alisando com vontade de usar.
Um torcer de chave, um clique, dois cliques e um ranger frio de porta e de destino, o Delegado olhava para o Cabo que olhava para os quatro do grupo que olhavam para qual lado correr se acaso tivessem problemas.
Uma agonia eterna quando se espera uma porta de hotel abrir, essa espera estava matando de curiosidade o grupo e o Delegado, só o Cabo que se satisfazia em olhar o grupo. Enfim, a porta abriu.
– Pois não! – Falou o turista.
– O senhor poderia esclarecer algumas dúvidas? – Perguntou o Delegado.
– Sim, claro! – Responde o turista.
– O senhor estava aqui esses dois dias?
– Sim estava e creio que o senhor também ficaria, nisso aparecem duas mulheres lindas, loiras, fartas e alegres, puxando o turista para a cama.
– Bom creio que o senhor tenha a total razão, passe bem. Respondeu o Delegado.
A porta se fechou; o cabo com o cassetete na mão rodopiou e fez o movimento de dar uma boa paulada num dos do grupo, que não vendo por onde, saíram em disparada buscando escapar do Cabo Boró, sai Seu Delegado a passo de quem não quer nada.
Fica a lição…
Que coisa feia, mas feia mesmo é homem fofoqueiro. Imagina quatro.
Olhei para Seu Vadinho que me olha com um fio de riso nos lábios, levantei-me e sai em direção à Ilha de Terra.
Fim!
Com 45 anos dedicados a criação de histórias e a produção de livros, Dario Cabral da Silva Neto, de 60 anos escreve poesias e se dedica ao desenvolvimento de romances. Dos 20 títulos já escritos, oito foram publicados.
Entre 1973 e 2000, Dario era, exclusivamente, poeta, mas em 2000, decidiu se transformar em romancista. Entre as surpreendentes obras, que são vendidas por R$ 30, estão os clássicos Catador de Sonhos, Uma Questão de Amor, A Ravina, Pétalas de Amor, O Segredo de Melissa e a Caminhada do Zé Mundão.
Os livros escritos por Dario não tem um foco religioso, mas trazem mensagens espiritualizadas.
Para adquirir as obras de Dario basta realizar contato com o escritor pelo Messenger do Facebook (in box) ou pelo telefone (48) 999378198.