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‘Boitatá na Ilha de Terra’: confira mais um conto baseado em lendas urbanas de Imbituba e região, do escritor e poeta Dario Cabral Neto

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Boitatá na Ilha de TerraVerão, Verão é coisa boa! Entretanto, nosso causo se dá no outono, quando a neblina, rara, aparece e com ela sempre vem o mistério. Não mais morava no canto, meu tempo neste pedaço de paraíso acabara. Sou mais um mortal desfrutando do tempo, buscando deixar tudo gravado na memória. As fogueiras em brasa transformaram-se em sonhos bons, os amigos ficaram nas pedras, como vigias das lembranças boas. Seu Vadinho ainda segue, em memória. Nestes causos, eu passo a ser aquele que lhe provê as falas.A água estava fria, clara, parecia mais fria ainda. A neblina escondeu a Ilha de fora, o vento acalmou deixando densa a neblina. A praia parecia vidro, gelando a sola do pé. As ondas sentiam e quebravam forte na areia. Um vapor gelado subia das águas e um arrepio me toma as costas.Chego ao canto, observo as pedras recém-desenterradas pela última ressaca, algumas dando formas, estranhas formas humanas. Acaricio algumas folhas dos arbustos que se derramam pelo morro baixo, apanho uma flor que, teimosa, ainda se dá aberta.Minha solidão é o querer estar só, ali, naquele momento. Um cenário que dá para tocar com os dedos e sentir na face o seu poder, maresia, sal, amor. Dez horas e quarenta e dois minutos. Serena a última onda na praia, aquela que se faz véu em espuma, reponto de cheia. Sento-me numa pedra alta e busco o interior das águas, pois, sentir este universo é bom, faz-me bem.Vejo um grupo de pessoas vindo ao canto, ainda vultos escuros no escuro da praia. Uma ou outra brasa de cigarro denuncia vícios. Volto meu olhar para o mar, que conversa mansamente com o costão, quem sabe, promovendo um pouco mais de canção entre mar e rocha.

Aquele grupo já demonstra forma, vozes conhecidas, risada boa como deve ser com amigos. Param na primeira pedra e um deles me vê mexer. Todos olharam e o silêncio tomou conta. Sempre me pergunto o que passa na cabeça de alguém num momento deste. O cenário ajuda a criar formas, alimentando o medo em cada um. Levaram algum tempo até tomarem a decisão de seguir adiante, na certa mediram forças no quatro contra um, assim, o medo atenua-se e a coragem, ainda fraca, começa a tomar forma.Ri comigo mesmo ao descrever o grupo. Se perigo houvesse, bastava um salto e o mar seria minha fuga. Nisso, um arrepio gelado deu-me seu abraço.  O grupo já estava perto, medindo distância, quantificando força, fazendo o que macho faz: sente medo. Eu, para testar minha coragem, ou afastar meu medo, gritei:- E aí, cambada de frouxos?Um palavrão em quatro vozes saudou-me, seguidos de uma risada nervosa.Reservo-me o direito de guardar segredo quanto aos nomes, mas certo que, se lerem este texto, darão risadas infinitas. – O que estais fazendo aí nesta pedra, seu merda? Cumprimentou João- Estou fazendo minhas orações e vocês que vêm pela praia como moleques fazendobagunça, não sabem que neste tempo deve-se guarda silêncio?- Para com isso Bruxo, nem tudo é mistério, só porque tem neblina e o frio toma conta – completa Mário.Os outros dois puxando o fumo, não estavam nem aí.- Mas, conta, não veio só pelas rezas, que está acontecendo? Pergunta-me João.- Senti que alguma coisa estranha irá acontecer hoje, aqui, e resolvi investigar.- Ah, para com isto, você sempre buscando no além as respostas de tudo.- Nem tanto, meu amigo, nem tanto.

Nisso, do nada, uma bola do tamanho da de basquete aparece, do nada, repito, com um brilho entre o verde e o azul. Aparece ali na Ilha de Terra, lado oeste, ou seja, bem na nossa cara. Aqueles dois que puxavam fumo, falaram em uma só voz:- Ô, fuminho bom!Os demais olharam diretamente para mim, como se eu fosse o responsável. Devolvi o olhar e acrescentei aquele movimento de ombro, dizendo que nada tinha com isso.A bola de fogo azul esverdeada fazia um movimento em arco. Como se amarrada em um pêndulo, ia e voltava, lembrando o movimento daquelas barcas de parque de diversão. Questionamentos e esclarecimentos sem princípios lógicos foram apresentados enquanto o grupo ficava mais unido, juntinho, sabe. Eu desci da pedra, um frio gelado arrepiava pelos antes aquecidos. 

Resolvemos, os cinco, ficarmos até pela manhã para ver como foi feito o truque, mas, não havia como montar uma estrutura que permitisse o movimento à bola, num arco perfeito, veríamos esta estrutura. E como fazer fogo naquela cor? Complicado esclarecer sem que se fosse à ilha. Propus o que me fez ser chamado de louco em coro. – Então o que faremos? Perguntei!- Vamos ficar aqui e esperar amanhecer. Duvido que não seja armação sua, seu doido! Falou João, me encarando. Sorri em resposta.Feito. Vamos ficar aqui. Deitei-me numa pedra ainda seca, esperei e com eles remoí conjecturas científicas praianas. As horas foram eternas e, por fim, amanhecia, lentamente. Olhei ao lado e os quatro amontoados dormiam e roncavam, olhei a bola que ia diminuindo o seu tamanho, chutei a perna de um e todos saltaram assustados. Apontei e ficamos olhando a bola lentamente ir parando seu movimento até que, por fim, parou e sumiu ao consumir a si própria.Não havia estrutura, nem cabos, nem ninguém segurando nada, pois não havia mais o que ver. Olharam-se sem querer entender e assim ficaram. Quando foram olhar para mim, eu não mais estava ali, procuram-me e outro olhar entre eles repartido. – Cadê o Bruxo? Sabia, isso foi coisa dele.Eu? Eu estava lá na praia contando passos, conversando com Seu Vadinho que se fazia pregar a peça, quem sabe?Olhamos o grupo que ainda procurava resposta.Na verdade não há, apenas tinha que acontecer, portanto, cuidado ao caminhar na praia em noite de neblina, água fria, num outono sombrio.

__________________________________________________________________________________SOBRE O COLUNISTA: Com 45 anos dedicados a criação de histórias e a produção de livros, Dario Cabral da Silva Neto, de 60 anos escreve poesias e se dedica ao desenvolvimento de romances. Dos 21 títulos já escritos, nove foram publicados, o mais recente “Redescobrindo a Vida”.Entre 1973 e 2000, Dario era, exclusivamente, poeta, mas em 2000, decidiu se transformar em romancista. Entre as surpreendentes obras, que são vendidas por R$ 30, estão os clássicos Catador de Sonhos, Uma Questão de Amor, A Ravina, Pétalas de Amor, O Segredo de Melissa e a Caminhada do Zé Mundão.Os livros escritos por Dario não têm foco religioso, mas trazem mensagens espiritualizadas. Para adquirir as obras de Dario basta realizar contato com o escritor pelo Messenger do Facebook (in box) ou pelo telefone (48) 999378198. 

Opinião:
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal AHora

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