A Comunidade Tradicional de Agricultores e Pescadores de Areais da Ribanceira, em Imbituba, é palco, todos os sábados, da Feira da Sociobiodiversidade promovida pela Associação Comunitária Rural de Imbituba (ACORDI). Um dos destaques do evento é o “Café na Roça”, que convida moradores e visitantes a mergulharem nos sabores autênticos, saberes tradicionais e expressões artísticas da região.
A feira acontece todos os sábados das 9h às 17h no barracão da sede da associação, aberto ao público, fortalecendo os laços com a terra, a cultura e os modos de vida tradicionais da região. O café oferece produtos típicos da gastronomia açoriana, com base principalmente na mandioca e seus subprodutos, amendoim e o butiá. Bijajica, beiju, bolo de butiá, geleia de butiá e outras frutas nativas, entre outros produtos.
A sociobiodiversidade é a conexão entre a diversidade biológica, a sustentabilidade e o conhecimento cultural das populações tradicionais. São produtos da sociobiodiversidade, bens e serviços derivados da biodiversidade, que são gerados por meio de atividades sustentáveis.
Além da venda de produtos frescos diretamente dos agricultores locais, o público pode saborear pratos típicos feitos com receitas tradicionais e adquirir peças artesanais exclusivas, produzidas com técnicas manuais transmitidas entre gerações. O evento também promove práticas sustentáveis, valorizando a identidade cultural da comunidade e incentivando o consumo consciente.
Na edição do último sábado (3), que teve a visita ilustre do deputado estadual Marquito (PSOL), o qual é um grande defensor das demandas da Acordi; a feira contou com um almoço especial em parceria com o movimento Slow Food Brasil e o chef Marcos Natureba, da Comunidade Slow Food Mata Atlântica.
O cardápio exaltou ingredientes nativos e técnicas tradicionais: a estrela foi uma corvina na brasa envolta em folha de bananeira, servida com molho agridoce de butiá. A sobremesa, um flan de coco com calda de camarinha (fruto típico da região), encantou os presentes e destacou o potencial da sociobiodiversidade local. Parte dos ingredientes do almoço slow food veio dos extrativistas, pescadores e agricultores da comunidade, e outra, de agricultores da Rede Ecovida de agroecologia.
“A Feira da Sobiodiversidade da ACORDI é um espaço de conexão entre comunidade tradicional e sociedade em geral, permitindo que saberes e sabores produzidos nos Areais da Ribanceira sejam conhecidos e valorizados. Além é claro, de ser também espaço de divulgação dos trabalhos da ACORDI, principalmente, em relação a sua luta por reconhecimento e manutenção deste território, que continua sendo o principal local de produção e extração de alimentos de Imbituba e região”, destaca Marlene Borges. Presidente da ACORDI.
Outro momento marcante foi a exposição do artista imbitubense Jair Renato Farias, criado na própria comunidade da ACORDI. A mostra, inspirada em São Francisco de Assis, trouxe obras feitas com fibras naturais como palha de bananeira, folhas e cascas — sem o uso de tinta.
As peças, que levaram vários visitantes às lágrimas, retratavam o santo em cenas do cotidiano simples, como jogar bola, soltar pipa e cultivar a terra. Segundo o artista, a intenção foi “redescobrir a beleza da simplicidade e o elo sagrado entre o ser humano e a natureza”.
Obras de Jair Farias que retratam São Francisco de Assis levam casal à catarse
Vindo de Florianópolis em um “bate e volta”, o casal de servidores públicos do Estado, Janaína da Rosa Valentim (que atua na Universidade do Estado de SC – Udesc) e Jorge Luiz Scheffer Cardoso (da Secretaria de Administração do Estado) não contiveram a emoção e tiveram uma verdadeira catarse ao se depararem com os quadros franciscanos de Jair.
“Sou católica, mas tenho muitos questionamentos à igreja, por achar que se afasta da origem. E São Francisco de Assis vai lá no que, ao meu ver, realmente representa a religiosidade, espiritualidade, que é essa conexão com a natureza, esse respeito e acolhimento para todos os seres. Então, gosto muito da história dele. Cheguei a ir na Itália percorrer os caminhos, meditações e cânticos que ele fazia. E foi uma amiga de Garopaba quem nos convidou para conhecer a feira e, justamente, hoje, com essa exposição. Aí cheguei e foi essa catarse”, conta Janaína, que encomendou dois quadros do artista.
“Me emocionei desde o início com as obras porque o Jair captou a essência e a alma de São Francisco, por meio da delicadeza, da sensibilidade de suas obras, inclusive feitas com elementos da natureza. Fui olhando as obras nesse lugar maravilhoso, em um evento tão legal, e me emocionando. Depois, ia ler o que ele colocou na ficha e me tocava em um lugar muito profundo. Isso porque batia com a curadoria, me levando a uma explosão de emoção, assim como com meu marido, que também estava com os olhos repletos de lágrimas”, finaliza a visitante, antes de iniciar as compras na feira e de degustar o almoço.
Importância da ACORDI
A Comunidade Tradicional de agricultures, extrativistas e pescadores dos Areais da Ribanceira, através da Associação Comunitária Rural de Imbituba-ACORDI, vem há décadas promovendo ações para conservação do Butia catarinensis, espécie endêmica de área de restinga, Mata Atlântica. Esta comunidade, faz sua conservação pelo uso, na alimentação e produção de artesanato Mas, acima de tudo, esta comunidade, através de sua ocupação e defesa de um território tradicional dos Areais da Ribanceira, vem protegendo importantes áreas naturais da cidade que abarcam remanescentes desta planta.
A proteção dos butiazais ocorre, principalmente, mantendo suas áreas naturais, pois ali ocorrem importantes interações da planta com o meio, garantindo sua perpetuação. Só há proteção da espécie, se o seu ecossistema e território forem protegidos.
A Associação Comunitária Rural de Imbituba -ACORDI, tem como objetivo trabalhar em prol da proteção e valorização da comunidade tradicional agrícola, extrativista e pesqueira dos Areais da Ribanceira e seu território tradicional. Para isso, trabalha para promover a conservação da sociobiodiversidade, economia solidária, segurança alimentar e geração de trabalho/renda. Também promove a manutenção de bancos de sementes e as manifestações culturais: boi de mamão, artesanato, farinhadas, pesca artesanal, extrativismo vegetal, agricultura itinerante.
