Por: Érika dos Reis
A 3ª Carreata de Cosme, Damião e Doum será realizada neste domingo (28), em Imbituba, com saída da sede do Terreiro Luz dos Orixás, no bairro Campo de Aviação. A ação vai percorrer comunidades localizadas nos bairros Nova Brasília e Paes Leme, levando doces, refrigerantes, bolos e brincadeiras para as crianças.
Neste ano, o evento terá como temática a Liga da Justiça. Os participantes irão caracterizados como super-heróis para distribuir cerca de 500 saquinhos de doces nas localidades do Araçá e Trilho do Araçá, no Paes Leme e Ferreirão e Loteamento Santa Terezinha, no bairro Nova Brasília. Aqueles que quiserem participar da entrega de doces, o ponto de encontro para saída será na sede do terreiro, na Rua Guararapes, Campo De Aviação. A participação é livre.
Organizada pelos médiuns do terreiro, a carreata tem o objetivo de fortalecer a tradição em homenagem ao orixá Ibeji e proporcionar momentos de solidariedade, alegria e muito axé. A participação é aberta a toda a comunidade, e quem quiser colaborar pode contribuir com a compra de doces ou integrar a ação. O contato pode ser feito pelo Instagram Luz dos Orixás.

Assim como no ano passado, quando dezenas de crianças foram alcançadas pela distribuição de doces e guloseimas, a iniciativa busca fortalecer a tradição em homenagem ao orixá Ibeji que, na religião católica, é representado por Cosme e Damião. A ação levará a alegria e bençãos do orixá regente da saúde, da pureza e inocência das crianças.
Orixá Ibeji e Erês – a força da infância e da alegria
A tradição da entrega dos doces tem origem na associação dos orixás com as crianças e com os santos católicos, feita por escravos africanos que não podiam cultuar livremente suas divindades na época da escravidão. A distribuição de doces é uma forma de agradar o orixá Ibeji que, além de protetor das crianças, auxilia as pessoas em questões relacionadas à saúde, amor puro, renovação, entre outros.
Na tradição afro-brasileira, Cosme e Damião estão ligados a Ibeji, divindade que representa a infância, a pureza e a alegria. Sempre lembrado em dupla, Ibeji simboliza a energia da renovação e da esperança, mostrando que o riso e a leveza também são formas de fé. No dia 27 de setembro, é celebrada a data estes orixás.
Junto a eles estão os Erês, espíritos que se apresentam como crianças e trazem mensagens de carinho, brincadeira e simplicidade. Eles ensinam que a espiritualidade não é feita somente de rituais, mas também de momentos de afeto e de partilha, como a doçura celebrada na entrega dos doces.

Cosme, Damião e Doum
No catolicismo, Cosme e Damião eram irmãos gêmeos e santos. Segundo as histórias da religião, os dois atuavam como médicos na Síria, no século III. Eles cuidavam dos doentes sem pedir pagamento, o que lhes renderam o apelido de “anárgiros“, que significa, na língua grega, sem prata. Devido a importância que eles tiveram para os mais necessitados da época, a Igreja Católica os santificou.
No umbandismo, apesar da mesma simbologia – com o cuidado e a saúde -, é celebrado também a figura de Doum. Enquanto os irmãos Ibejis entendem-se como protetores da inocência e da pureza das crianças em adultos, Doun é a representação do protetor infantil até alcançarem os 7 anos de idade.
É ele quem recebe os doces ofertados. Em troca das oferendas – presentes e alimentos ofertados aos orixás para que eles ajam com mais força na vida das pessoas – Doun dá leveza, alegria e doçura para enfrentar os percalços da vida.
Médiuns e os terreiros
O terreiro de Umbanda é o espaço sagrado onde acontecem os rituais, cânticos e práticas dessa religião brasileira que une elementos das tradições africanas, indígenas, do espiritismo e do catolicismo. É nele que os médiuns – pessoas que têm a sensibilidade de se conectar ao mundo espiritual – recebem entidades de luz, como caboclos, pretos-velhos e erês, para transmitir mensagens, orientações e realizar trabalhos de cura e acolhimento espiritual.
Sincretismo religioso
O sincretismo religioso é um fenômeno que se consolidou no Brasil principalmente durante o período colonial, quando os povos africanos escravizados, ao trazerem suas tradições religiosas, precisaram adaptá-las ao contexto de repressão imposto pela Igreja Católica. Para preservar suas crenças, muitas divindades das religiões de matriz africana passaram a ser associadas a santos católicos, criando paralelos simbólicos que permitiram a continuidade de seus cultos de forma disfarçada. Assim, por exemplo, Oxum foi relacionada a Nossa Senhora da Conceição, Ogum a São Jorge e Iemanjá a Nossa Senhora dos Navegantes.
Na Umbanda, que nasce no início do século XX como uma religião brasileira, esse sincretismo permanece como um traço importante, mesclando elementos do catolicismo, do espiritismo kardecista e das tradições afro-brasileiras. Ele expressa não apenas uma estratégia de resistência cultural, mas também a riqueza da diversidade espiritual do país, onde diferentes visões de mundo se encontram e dialogam, resultando em práticas religiosas plurais e inclusivas.











