Nasceu o sol sem querer nascer,
Um pingo de luz entre névoa neste clarear de dia.
Tomo e desejo explícito no papel silencia…
Treme sem querer a pena provocando tinta em ondas,
O tempo de pensar no quê.
Quantas folhas fora, bolas espalhadas ao chão,
Mais uma lisa, impávida, resignada aceita as palavras,
Oi!
Infinita é a saudade, diz a noite à lua.
Serena se espraia a onda em véu de renda,
Vaga-lumes piscam luzes buscando pares,
Assim minha pena desliza tinta colorindo ares,
Arfado ar de desejo e saudade,
Calo por instantes meu pensar em ti,
Desprendo lágrima cativa em borrão de tinta,
Inflo-me de ar a plenos pulmões, calo o quê de voz…
Tento ainda ouvir, quisera poder ser tua voz no vento,
No entanto, apenas silencio meu desejo, ainda não é tempo…
Não brotas ó flor de restinga na minha duna coração,
Nem alagas trêmula a flor prisioneira das águas… Lótus.
E cá eu em passos de grama e areia,
Pinto-te nas cores nuas deste amanhecer,
Envelopo meu lamento de sol tímido…
Barco de papel afrontando ondas,
Desbotando tinta, diluindo letras, silenciando voz…
E nesta volta de tantas voltas, duna nua ao vento clamo…
Tão juntos estamos nesta distância de vento,
Cor e tela, tinta e pena, noite e vela…
Que mais juras brotam simples entre estrelas,
Que jamais cadente se dão, me revelas intento nu.
Onde só o orvalho sela envelope de madrugada,
Só o vento oferta e intenta em ir-te reclamar presente…
Aceito desta encomenda proposta de silêncio…
Soa lá fora sons de passos, soa ondas em descompasso,
E pisca a lua entre nuvens tinta e pena…
Encerro minha carta sob a luz dos vaga-lumes.
Dario – 2018