Em uma certa manhã, acordei. Me espreguicei e fui em busca do celular, que estava tocando, insistentemente. Ao abri-lo, me deparei com uma notificação:
‘Adolescente de 15 anos é estuprada em Imbituba’
No primeiro momento, sinceramente, desacreditei. Esfreguei os olhos e observei se, realmente, era verdade. Uma triste e horrenda verdade. Eu planejava escrever uma coluna sobre a importância da religiosidade e da espiritualidade na vida das pessoas, mas esse tipo de notícia entristece, enraivece, enlouquece cada célula de minha pele. Fico, sim, à flor da pele.
Imbituba, sob minha perspectiva, sempre foi uma cidade segura. Minha mãe dizia que a polícia, nessa cidade, não deixa bandido ‘se criar’. E também que toda a vizinhança é vigilante com os seus conhecidos, não só para fazer a famosa fofoquinha, mas também para cuidar da segurança de cada criança, adolescente e adulto. E, realmente, quando vou em busca de notícias diárias no trabalho, percebo o quanto a polícia de Imbituba é eficaz. Tanto que, assim que a vítima expôs o acontecido à polícia, o órgão disponibilizou detalhes aos portais de notícias para que avisassem a população que um estuprador está solto.
Mas, o primeiro pensamento que veio à cabeça foi: no que esta cidade está virando?
Pois é comum, embora trágico, ver uma notícia dessas relacionadas a cidades grandes, centros urbanos… Mas, em uma ‘cidade pacata’? Por mais que eu saiba que isso possa acontecer em qualquer lugar, ainda me é estranho. Semanas atrás, toda a região se atentou ao caso de assassinato em um centro de treinamento de futebol, no Bairro Vila Nova, em que um trabalhador foi alvejado por diversos tiros, em plena luz do dia.
Assassinatos, estupros… Crimes bárbaros. Em Imbituba?
Depois da revolta emocional, me atentei às possíveis causas. Facções? Desenvolvimento urbano? Falta de segurança pública? Espiritual? Pessoas. Pessoas de todos os tipos. Boas, más, baixa e alta renda, com família ou sem. Pessoas de várias partes do país descobriram a calma e a paz de Imbituba. Para os ladrões, uma ótima oportunidade para se aproveitarem da inocência dos idosos, das crianças… Logo pensei: “Até onde o desenvolvimento é benéfico para a cidade?”
Graças à educação nas escolas e em casa, as crianças e adolescentes estão mais conscientes do que pode ou não acontecer. Denunciar, se expressar, pedir ajuda. A coragem desta jovem em expor este acontecimento, reforça a minha fé na conscientização da violência sexual. Meu máximo respeito a ela e sua família. Além da tristeza por ter que passar por isso. Em uma cidade que disseram que é segura. Será que isso pode virar falácia?
Este texto não foi escrito para ameaçar ou expor ideologias políticas, mas sim, para deixar a seguinte reflexão: Até onde o desenvolvimento sem planejamento é saudável?
Meu mais sincero lamento a esta menina. Desejo força e coragem para enfrentar este trauma tão doloroso. Àqueles que trabalham e vivem no Centro de Treinamento da Vila Nova, meus sentimentos. Jovens em busca de um sonho estão lá, e infelizmente, viveram um pesadelo horrível.
*P.S.: Não sou contra o desenvolvimento saudável, que fique bem claro. Sou contra o desenvolvimento prejudicial à segurança, tanto de Imbituba quanto de qualquer outra cidade pequena.
