Somos todos personagens deste livro chamado vida. Desta verdade criamos cenários, dele tantas outras memórias fixadas como imagens colorindo teatro.
Lembrar o tempo incerto; a transformação do Centro de Imbituba de uma forma lúdica, trazendo à vida situações que sei fará alguns lembrarem e junto comigo sentados num dos bancos frios de concreto, comendo pipoca e assistindo este desfile de memórias.
Ainda existiam ruas sem calçamento, a João Rimsa, onde morava era uma delas tinha uma cobertura de cinza de carvão que grudava nas barras das calças boca de sino, vindo a se transformar em apliques fotoluminescentes nas noites de luz negra no Atlético, aquilo brilhava numa mistura de pontos verde e amarelo, claro chamava a atenção, saia da luz negra e voltando à luz normal tudo desaparecia, Bruxaria daquele tempo.
Quantas vezes, nestas mesmas saídas; passava na cigarraria do Maneca onde havia um tabuleiro de xadrez, peças colocadas, era só fazer uma jogada sair e seguir adiante ou ficar e perder em poucos minutos, observar o humor característico deste ícone tradicional.
Quem se lembra daquelas tomadas colocadas nos postes nas ruas do centro, onde nas tardes de domingo íamos ouvir músicas naqueles gravadores K7 pesados, encapados em couro, era um grupo de seis aqui, outro na esquina. Rivalidade de estilos, classes sociais, ruas e até mesmo pessoais.
Sentar e correr o risco de ter os fundilhos da calça rasgada no arame farpado colocado na barra de ferro que protegia a vitrina do Candemil, enquanto se esperava a turma se reunir para ir ao Cine Marabá, assistir um filme de Caratê e depois quando não tinha ninguém olhando dar uns saltos e uns gritos e voltar ao normal, olhando para todos os lados. Nesta confusão de imagens e de memórias perceber que este mesmo cinema trocara de endereço, mais conforto e controle comportamental nas mãos do Quidinho lanternista, sempre atento.
Era movimentado o domingo à noite entre missa e cinema, uma passada na sorveteria do senhor Almeci, uma variedade de sorvetes com suas montagens em pratos especiais, caros para caramba.
O encontro era feito por pontos comerciais, não por outra logística qualquer era perfeito; às 15h45min na frente da Agropecuária do Censo, ou da loja do Neném, destes pontos saiam as melhores estratégias de bagunças. Era perfeito.
Resumir tantas memórias em poucas páginas será complicado, um desafio a mais, o que é bom. Sugere um texto em duas ou três partes.
Ver gradativamente a mudança estética do centro, crises vindas e indo embora, o transplante da figueira do lado do colégio Annes Gualberto para a Praça da Igreja, a mesma figueira que hoje esta atrás do salão de festas, rir ou reclamar das brigas políticas que eram resolvidas num fazer e desmanchar o que fora feito e assim indefinitivamente até que um Prefeito resolvesse dar o atual desenho da Praça, loucuras da época.
As ruas começaram a receber paralelepípedos e a poeira cinza foi embora, Deixando a Vila Operária num destaque entre o contraponto moderno e antigo.
As barraquinhas da João Rimsa que servia aos funcionários da Cerâmica, os guris com suas bicicletas cheias de marmitas no guidão, vindo da Vila Nova e outros Bairros para àqueles que ali trabalhavam. O restaurante do Tibúrcio, uma vez foi abastecido com centenas de pombos, transformados em frangos a passarinho, cortesia do meu pai e do Antônio do Jangadeiro quando ainda vizinho.
Assistir as corridas de bicicletas feitas pelos trabalhadores da Cerâmica em cada final de turno, por aqueles que moravam para as bandas dos Arroios, era divertido, lembro que uma vez houve um reparo na Nereu ramos bem na frente do Posto de gasolina Esso, do Geraldo, coitados não viram e na velocidade que vinham saíram do calçamento para a areia da base, foi um amontoado de ciclistas, o curioso foi que nenhuma garrafa térmica quebrou, eles, no entanto, entre cortes e arranhões sobreviveram.
As transformações passam acelerada nesta Cidade que cresce a cada dia, modifica seu Centro, recebendo críticas que caem no esquecimento. Alargam-se as calçadas, redesenham a rua, um cenário novo, moderno, agrupamento de pessoas de todos os bairros, é o Centro, com suas feridas, cicatrizes amargas com o fim da Granja, outra muito profunda a Cerâmica, silenciam as vozes daqueles trabalhadores nas trocas de turno, acabou a rivalidade entre Atlético e União, desaparece o campo e nascem Lojas, Clínicas, Estacionamentos, tantas transformações nesta senhora jovem no auge dos sessenta aninhos.
Dizem que os mais velhos dão lugar aos jovens, prédios cobrem o terreno onde uma vida foi escrita, ficando neste vagar do tempo a corrosão do esquecimento, sair e observar com outros olhos, parar e ouvir o que o Mudo tem a dizer na ponta da tesoura e ou na rapidez do feitio de uma barba, passar na Dona Quida comprar miçanga, no Zé Babão o pastel de não sei o que dentro, mas era bom, tudo dando lugar ao jovem que vai ficando idoso, que será e esta sendo substituído aos poucos por outros jovens bombados, os Prédios, mas quem liga se a vida passa?
As cores mudam, as residências são trocadas, o imponente Colégio Henrique Lage parece tão pequeno hoje, à sombra do gigante a sua frente, as rodas de conversas sumiram e agora são rodas silenciosas e cibernéticas do individualismo global na mascara do antenado ao mundo. Olhar nos rostos das pessoas buscando histórias não contadas, vê-las no cruzar a faixa sem entender seu significado, fazíamos fila para o Cinema, hoje para entrar no banco, vozes e sons brigam pela venda, no passado era o cumprimento, “passa lá chegou novidade” dizia Maria Dalva à minha Mãe, hoje o estralar do microfone de uma propaganda, rivaliza com as do Zé Francisco, que se junta com os do vendedor de óculos, que se mistura aos outros tantos sons que fazem esquecer o passado educado.
Assim se transforma o Centro misturando tinta, vozes, concreto, automóveis, que de vez em quando calam, calam no luto de um que se foi, vibra o pai no nascimento de um filho, tempo de ir mudando visão, mas o baú esta lotado de memórias, memórias sem vultos virtuosos do acaso ou ocaso, apenas memória que um dia é certo será transformada em sopro de vento.
Dobro a esquina entro no Laboratório Central, brinco um pouco, faço meu exame, volto outro dia, o dia passa na lentidão que a vontade de ir embora sente, teima e ainda olha buscando mais um rosto na multidão.
Fica o Centro diluindo passos, vozes e sons, no apagar das luzes e no acender das vitrinas, rodopia o vento levando um endereço qualquer num pedaço de papel e levanta o cão preguiçoso revirando latas.
Foto de capa: No calçadão da Rua Nereu Ramos, anos 70, onde é hoje o Banco do Brasil. Residências do Sr. Osório e Tobias Tolentino (que aparece na foto com Dona Maria) – Acervo Facebook – Memórias de Imbituba.
Fim!
Com 45 anos dedicados a criação de histórias e a produção de livros, Dario Cabral da Silva Neto, de 60 anos escreve poesias e se dedica ao desenvolvimento de romances. Dos 20 títulos já escritos, oito foram publicados.
Entre 1973 e 2000, Dario era, exclusivamente, poeta, mas em 2000, decidiu se transformar em romancista. Entre as surpreendentes obras, que são vendidas por R$ 30, estão os clássicos Catador de Sonhos, Uma Questão de Amor, A Ravina, Pétalas de Amor, O Segredo de Melissa e a Caminhada do Zé Mundão.
Os livros escritos por Dario não tem um foco religioso, mas trazem mensagens espiritualizadas.
Para adquirir as obras de Dario basta realizar contato com o escritor pelo Messenger do Facebook (in box) ou pelo telefone (48) 999378198.