“Eu estava no ponto de ônibus com uma senhora e, de repente, um carro com um senhor de uns 65, 70 anos parou em nossa frente e ofereceu carona. Aceitamos. Nunca tinha passado por situação parecida e não tinha tanto medo de pegar carona quando estava acompanhada de outra mulher. Chegamos ao destino, agradeci, educadamente, e segui meu rumo. Mais tarde, esse senhor que me dera carona apareceu, cumprimentei-o, e ele, de máscara, pediu para que eu me aproximasse.
Ele falou algo mas eu não havia entendido, pedi que repetisse, então ele disse: ‘Você conseguiu dinheiro para voltar pra casa?’. Respondi que estava fazendo hora no local para ir ao dentista. Então ele: ‘Gostaria de ganhar um “cenzinho”? Vem comigo até meu carro.’ Quando eu me dei conta do que ele havia mencionado, minha pressão caiu. Por ter grande respeito aos mais velhos, apenas respondi com voz firme: ‘Não. Obrigada.’
Sentei, e tive a sensação de que iria desmaiar. Comecei a pensar: será que eu me ofereci e não percebi? Será que é por causa da minha roupa? – Eu estava de moletom e calça jeans. Milhões de coisas passaram pela minha cabeça. Quando fui em direção ao consultório odontológico, olhava de um lado para o outro, com medo de que ele viesse. Essa sensação durou dias e dias. Fiquei com medo e sentindo-me até mesmo culpada. ”
Não tem dia, hora e muito menos local. Não tem vestimenta, não tem cara e nem situação. Acontece quando menos esperamos. E sempre achamos que a responsabilidade é nossa, mas não. Fiz uma enquete em minha rede social perguntando aos meus seguidores se algum deles já sofreu assédio, e pedi que contasse sua história se quisesse. Recebi este relato de uma jovem de 20 anos, que estava indo ao dentista. Comecei a refletir sobre, afinal, não é a primeira e nem a última vez que iremos ouvir histórias como essas.
Aqui em Imbituba, a maior parte da população regula na faixa de 55 a 80 anos, segundo dados do censo de 2010 – não consegui dados atualizados. Logo, presume-se que há mais adultos e idosos do que jovens nesta cidade.
Em um passado não tão distante, era natural homens adultos procurarem mulheres mais novas para se relacionar, e era aceitável por vários aspectos. Pode ser até mesmo cultural. Na Índia, por exemplo, casamento de meninas com homens maduros ainda é comum. Tendo isso em vista no Brasil, pode-se considerar que, por serem criados em uma cultura machista, os senhores não têm noção de como isso afeta grande parte das jovens mulheres. Podemos considerar que nós, mulheres, já avançamos muito em relação à liberdade de expressão, mas garotas que começaram a se descobrir agora como pessoas adultas, ainda têm muito que aprender, cabe aos pais e a sociedade ajudar a guiá-las para o conhecimento e auto proteção, pois existem homens que se aproveitam da ingenuidade de moças, e manipulam até conseguirem o que querem. Não estou dizendo que todos os adultos/idosos são assim, longe disso, mas uma boa parte não tem noção da gravidade que uma cantada pode causar na vida de algumas adolescentes.
Creio que a liberdade de expressão também influencie neste caso, pois os idosos não estão mais presos à uma sociedade que impõe a eles que devem ser preservados: vovô e vovó em suas casas, sentados numa cadeira de balanço. Não digo que devem voltar a ser assim, jamais! Mas o respeito é sempre por todos.
Pode ser por isso que grande parte dos jovens não são mais tão respeitosos com os mais velhos, por medo de criar intimidade e futuramente vivenciarem alguma forma de assédio. E sim, tem mulheres que gostam de mais velhos, e demonstram isso. Mas não são todas. E homens nojentos – digo para ofender mesmo aqueles que abusam e assediam jovens, insistindo, mesmo tendo um Não como resposta – devem sim sofrerem consequências sociais para que pensem em seus erros, como um castigo.
Esse tipo de situação mexe com a autoestima da pessoa: “Quer dizer que eu só atraio velhos?”, “Não vou mais sair na rua vestindo jeans para não chamar a atenção…”. Essa sensação de impotência é o que nos priva de ser quem somos e por vezes ainda nos impede de crescermos independentes.
Mulheres maiores de 18 que passam por essa situação e se sentem mal por não poderem fazer muita coisa para mudar, calma. Não somos obrigadas a passar por isso de boca fechada. Caso sintam-se desconfortáveis, falem ou gritem, reajam. Temos que respeitar, mas também devemos impor respeito.
Érika Dos Reis Bernardes
P.S.: estava propondo para esse próximo artigo falar sobre infantilidade, porém aconteceu
uma situação que me inspirou a escrever sobre. No próximo texto, trarei este tema o qual
havia mencionado na publicação anterior.
Sobre a Colunista
Sou Érika dos Reis Bernardes, – oiii – tenho 24 anos e sou uma “fisólofa” – isso mesmo que você leu, não é erro de digitação. Já que não tenho estudo acadêmico a ponto de filosofar como Platão, Aristóteles, entre outros filósofos, prefiro me enquadrar no senso comum de pessoas que dão pitaco em tudo.
Uma ‘jovem adolescente’ que ama estudar seu próprio comportamento e que tem prazer em filosofar sobre a vida. Passei boa parte dos meus 21 pensando e aprendendo, principalmente no período em que lutava para me recuperar de um AVC ocorrido, em 2012, assim que cheguei a Imbituba, na escola. Que me acarretou em graves limitações físicas. Tive complicações como hidrocefalia e durante anos precisei reaprender a andar e a falar.
Nas colunas abordo assuntos que mexem com a cabeça de qualquer adulto: A MENTE DE UM ADOLESCENTE E DO JOVEM. Nestes textos que escrevo semanalmente, trago a verdade nua e crua de um adolescente, mas de uma forma mais poética e dramática, típica do universo Teen. Mostro também minha visão de mundo, em relação a questões sócio culturais que nos atingem. Sem defender os jovens, mas também sem passar a mão na cabeça dos adultos.
Sim! Sou uma guria que recém saiu das fraldas que quer dar uma de “sabe tudo” no Portal! Talvez? Quem sabe? Quem sou? Pra onde vou? Quem fui?
À Flor da Pele é, com toda certeza, o sinônimo de adolescência e juventude. Hormônios, vida, arte, drama, rock’n’roll, sexo, teorias, ideologias que explodem na mente e no corpo dos jovens. Como saber lidar com tudo isso? Mostro o quão neutros precisam ser os pais nessa fase. E o quão conhecedores de si mesmos, os jovens precisam ser para passar por essa incrível saga.