13 de maio de 1888, sinhá Isabel assina o documento que oficialmente declara abolida a escravidão no Brasil, depois de mais de 300 anos. Esse processo, que culminou em milhões de pessoas desumanizadas nesse território, formou gerações construídas sob o trabalho exploratório, labor que construiu o Brasil. A partir da lida das mãos daqueles que foram sequestrados de suas terras. Como eu costumo afirmar, esse país foi construído por mãos negras.
No dia 14, o sol brilha do mesmo modo. Aliás, acredito que a comercialização de negros e negras escravizadas na praça Freguesia Sant’ Anna de Mirim (atual Mirim – Imbituba/SC) não acontece mais após esse dia. Ou melhor, parou quando? Quando será que os escravizados e/ou seus descendentes, na Freguesia Sant’Anna de Vila Nova (atual Vila Nova – Imbituba/SC), ficaram sabendo dessa abolição? Lacunas para serem preenchidas por uma árdua pesquisa histórica nesse território que ainda há quem diga ser branco.
Após 13 de maio, a plantação ainda precisava ser colhida, o Brasil não parou e o processo não foi fácil e tão belo como muitos pensam. A liberdade, disponibilizada pela caneta de sinhâ Isabel, ora almejada, chega de modo ingrato. Não há reparação. Não há recurso disponível. O estado não prevê terras para essa população recém-liberta das condições de escrava. Não há uma política. Não existe previsão para inserção ao mercado de trabalho. Mesmo o já precário espaço no mercado de trabalho, que era ocupado por essa população, passou a ser destinado a trabalhadores brancos ou aos estrangeiros que vieram para substituir a mão de obra escrava.
As consequências desse passado reverberam até hoje. Essa reparação se espera. Aguardamos desde 13 de maio de 1888, quando a sinhá Isabel assina o documento que oficialmente declara abolida a escravidão no Brasil, depois de mais de 300 anos.
SAIBA MAIS SOBRE MARIANE COELHO
Historiadora e pesquisadora na área de história e cultura afro-brasileira. Autora do artigo “MEMÓRIAS DO NEGRO EM IMBITUBA/SC: NARRATIVAS E SILENCIAMENTOS” e do capítulo “Educação para as relações étnico-raciais” da Proposta Curricular da Rede Municipal de Ensino de Imbituba.
Mulher negra, imbitubense, lá da Limpa. Tataraneta de pretos escravizados. Bisneta de quilombola. Neta do Seu Liço (in memoriam) e da Dona Coraci. Filha da Nete e do Rudi. Cria de um pedreiro e de uma costureira. Ela pesquisa, ouve e fala dos “seus” e sobre suas histórias, memórias, silenciamentos, lutas e vivências, pois acredita que faz parte do sonho de seus ancestrais. UBUNTU, do idioma africano kibundu, “eu sou porque nós somos”.










