Historiadora e pesquisadora na área de história e cultura afro-brasileira. Autora do artigo “MEMÓRIAS DO NEGRO EM IMBITUBA/SC: NARRATIVAS E SILENCIAMENTOS” e do capítulo “Educação para as relações étnico-raciais” da Proposta Curricular da Rede Municipal de Ensino de Imbituba.
Mulher negra, imbitubense, lá da Limpa, que ousou sonhar quando escutou que negros e pobres tinham que estudar. Tataraneta de pretos escravizados. Bisneta de quilombola. Neta do Seu Liço (in memoriam) e da Dona Coraci. Filha da Nete e do Rudi. Cria de um pedreiro e de uma costureira. Bolsista PROUNI UNISUL, selecionada UFSC 1° período, bolsista CAPES na graduação. Continua sonhando e agora, construindo, pesquisando, ouvindo e falando dos “seus” e sobre suas histórias, memórias, lutas e vivências, pois acredita que faz parte do sonho de seus ancestrais. UBUNTU, do idioma africano kibundu, “eu sou porque nós somos”.
Sankofa
Semana passada minha amiga deixou comigo uma chave que achou em um ponto de ônibus. Como trabalho em um local considerado um bom ponto de referência, a estratégia foi publicar em uma rede social que alguém esqueceu a chave no local e que poderia ser retirada comigo. Hoje, pensando bem, a estratégia foi péssima. Erramos. Escrevo olhando para a bonita chave que está comigo a dias e nem sinal de algum dono ou dona. Tiramos a oportunidade do retorno ao lugar do acontecido para recuperá-la. Quem perdeu, ao voltar, não conseguirá achá-la.
Talvez você já esteja familiarizado ao título da minha coluna e a alguns termos que vem da filosofia africana.
Sankofa, é um adinkra, faz parte de um conjunto de símbolos pertencente aos povos Akan. Ele é representado por um pássaro que volta a cabeça para a cauda para pegar algo: o ovo com o bico. Possui pés firmes no chão, no presente, e cabeça voltada para trás.

Os povos africanos e suas filosofias nos apresentam grandes ensinamentos à milhares de anos. Sankofa significa “você pode voltar atrás e buscar aquilo que esqueceu” ou “nunca é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficou para trás”. Quer dizer que quando você esquece de algo é preciso retornar para recuperá-lo. Olhar ao passado, estando no presente.
Na procura de ancestralidade, a coluna buscará fazer esse olhar, afinal nunca é tarde para retornarmos às nossas raízes africanas e afro-brasileiras. Estas que sofrem a tentativa de apagamento, silenciamento e ocultamento. Fruto de um processo iniciado no passado e que reflete no presente. O que foi deixado para trás?
Finalizo com esse pensamento do grande mestre, filósofo, poeta, escritor, professor, líder quilombola e ativista político que partiu dessa terra a pouco tempo: Antônio Bispo dos Santos (Nego Bispo). “Nós somos o começo, o meio e o começo. Nossas trajetórias nos movem, nossa ancestralidade nos guia”.










