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Redator

ARTIGO: professor e jornalista Daniel Luiz Miranda pergunta: “Onde está Deus?”

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Onde está Deus?

Por Daniel Luiz Miranda

Nas últimas semanas – se não meses ou anos – me percebi fazendo esta pergunta a todo tempo. Mais profunda do que o questionamento filosófico (Nada? Energia criadora? Ser supremo? Jesus? Aquele que conduz espíritos ao aperfeiçoamento? Aquele que designa a cada ser humano um Orixá Regente?), a questão me parece existencial: para mim, onde está Deus?

Honestamente, transitei por diversas visões antes de cair na dúvida. E foi na dúvida onde encontrei conforto. Criado adventista, muitas certezas me foram inculcadas para, posteriormente, servirem de base ao questionamento. Me vi cristão, sem denominação, incapaz de negar a presença deste diretor do destino, mas sem a capacidade de me colocar em espaços – tão contraditórios, em sua essência – de suposta adoração. Me vi agnóstico, impossibilitado de afirmar – nem que sim nem que não.

Por algum tempo, fechado dentro de mim, sem poder responder as perguntas que minha própria cabeça formulava, em um “mundo assombrado por demônios”, tentei matá-lo. Não se tratava de reformular a imagem de Deus, tão insuficiente pra mim; eu não poderia viver em paz, diante de um complexo nietzschiano, em um universo onde existisse essa figura… Deus. A sensação era de escapismo, de fraqueza, um atestado de mediocridade intelectual. A validação das violências que sofri, como indivíduo, pela leitura mais comum, perversa e vilipendiosa, da Bíblia, por exemplo. Este conjunto de livros que, se posto como convencionado até hoje pela maioria das instituições que se julgam detentoras do direto de interpretá-lo, executá-lo e fiscalizá-lo, garantindo sua suposta idoneidade, não valida minha existência e até mesmo advoga pelo meu extermínio. É só “mais um” dos livros sagrados, mas é o mais sangrento dos documentos ocidentais (aqui, fico curioso para saber quais os argumentos dos que tanto acusam o Islamismo de extremismo religioso, mas se esquecem da colonização e da escravidão, impostas pelo Cristianismo, das cruzadas e da atual violência e intolerância religiosa carregada pelo neopentecostalismo).

Afinal, onde está Deus? Deixa contar sobre as últimas semanas. De tempos para cá, vi irmãos se despedirem pelo laço da morte, filho e pai se reaproximarem pouco antes do último adeus, a reconciliação de amigos amados há muito separados, a cura que parecia impossível – em meio a preces e lágrimas -, e a união entre seres tão distintos para o bem de uma vida em perigo. Definitivamente, Deus esteve ali. Neste Deus, eu escolho acreditar. Não no que valida a violência, que transforma bibliotecas em clubes de tiro, que tem aversão ao conhecimento, que expulsa minorias, que condena quem ama diferente, que governa para poucos e isola outros muitos. Não. Nesse, não.

Eu vi e escolho acreditar no Deus que é porta para todas as ovelhas, que deixa 99 e vai atrás daquela única que se perdeu; naquele que é vida e vida em abundância; acredito naquele que não “cancela CPFs”, mas doa a si próprio para que outros vivam; naquele que disse “Pai, perdoa-lhes; eles não sabem o que fazem” ao invés de executar sumariamente; naquele que disse “eu também não te condeno” e fez com que todos soltassem as pedras; naquele que irou-se diante da desonestidade, da falsa moralidade, do mercantilismo das coisas sagradas e da associação da fé com a riqueza e com o engrandecimento pessoal. Eu acredito naquele cuja revolução foi derrubar o velho e segregador, ensinar o novo inclusivo e amar indiscriminadamente. 

Se a fé é acreditar nas coisas que não se podem ver, eu escolho ter essa fé. Naquele que diz “venham até mim os que estão exaustos e não aguentam mais, porque eu serei alívio”. Eu vi, pelo rosto de muitos que não sabiam, a face de Deus. 

“A religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo (Tiago 1:27).”

Neste Deus eu escolho acreditar.


Daniel Luiz Miranda, 27 anos, professor de Literatura e línguas, por formação e convicção, jornalista por paixão e inquieto por natureza. Andarilho, já passei por cantos onde vi a extrema pobreza e por salões onde encontrei o luxo. O que tirei disso tudo? Que quase nada se leva daqui. A paixão pela arte, pela escrita, me faz buscar a novidade – essência dos que estão sempre em movimento. Não parar em lugar algum é, de certa forma, não fincar raízes, não temer a mudança e saber que “o passado é uma roupa que não nos serve mais”. Na coluna “Veias abertas…”, quero conversar com os leitores sobre as questões que nos compõem e fazem de nós, seres humanos, inconstantes, incoerentes, invariavelmente diferentes – e que bom! – exatamente o que somos. Não existe tema pouco importante; não há assunto tabu. Tudo deve ser posto em cheque, toda certeza deve ser revisitada e colocada à prova. O destino não se dá em uma planilha organizada de Excel, mas num emaranhado de linhas, um rizoma, que se encontra e se separa… até nos levar a qualquer lugar que formos; ou nenhum. Nossas veias abertas escorrem e é de sangue que se faz a vida. 

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