Longe do mar e do surf, Patrícia se desdobra para criar a neta da Vilma, a maior mãe que o surf já teve
A maior história que o surf da Capital catarinense, Florianópolis, poderia contar para o mundo, não se resume apenas às grandes competições que se sucederam por lá. A praia da Joaquina, o maior palco brasileiro para o mundo nas décadas e 80 e início dos 90, marcou o surf nacional e internacional com OP Pro’s, Hang Loose’s e muito mais.
O primeiro palanque fixo do surf nacional, uma das marcas históricas da praia da Joaquina, em Floripa nos anos 80, não abrigou apenas os melhores surfistas do Brasil e do mundo, além de empresários do mercado do surf nacional e fans à época.
Foi também, por algum tempo, morada de uma guerreira e querida pelo mundo do surf, que dantes de trabalhar em seu próprio restaurante na Joaca, vendeu bolos na beira da praia, até serviu almoço, lanches e cafezinho para staff e atletas, durante as maiores competições de surf que lá ocorreram.
Lá, Vilma, um dia chamada por acaso de ‘mãe dos surfistas’ por um dos maiores empresários do surf nacional, Alfio Lagnado, proprietário da Hang Loose, durante um dos eventos que levou o Brasil à elite das competições internacionais, fez sua história. E foi lá que a Vilma teve sua verdadeira filha, acolhida pelos surfistas, e ainda mais querida pela galera que ela própria.
Do palanque a casa: Os órfãos da Joaca
Patrícia era a ‘irmã’ preferida de todos que um dia chamaram Vilma de ‘mãe’. O palanque foi substituído por uma morada, bem próximo ao velho palanque, onde Vilma criava sua família e abrigava surfistas e amigos. Em dezembro de 2014, Vilma deixou órfãos milhares de surfistas e um vazio na principal praia do surf competição de Santa Catarina. Para muitos, a Joaca não foi mais a mesma sem ela. Patrícia, como não poderia deixar de ser, aos 7 anos de idade já surfava, depois vieram as competições”.
Eu comecei a surfar com 7 anos. O primeiro campeonato foi um Pro que eu participei. Depois disso não parei mais. Eu adorava aquela raça, quando tinha campeonato na Joaca. Ficava tudo tão mágico. A gente trabalhando e revia os amigos de longe“.
A moradora mais antiga da Joaquina
“A mãe é das antigas, já morava na Joaquina há décadas, foi a primeira moradora da praia
Ela casou com meu pai e foi morar lá. Ela que levou a luz para o bar do Chico. Os bares ali eram todos pequenos. A primeira casa que a gente morava, colocaram fogo e a minha mãe foi morar na casa do Ortiga, ex-presidente do Figueirense. O terreno, a Marinha deu pra ela. Depois o Flavio Boabaid e o Ledo deixaram a mãe morar no palanque.” conta Patrícia.
Anos se passaram, e a filha da Vilma teve que se virar. Contou durante alguns anos com ajuda de amigos, trabalhou no Centro Administrativo de Florianópolis e manteve seu estágio. Antes e depois da Vilma falecer muitos deram sua parcela de contribuição. “Edson Ledo Ronchi – ex-presidente da antiga Associação Catarinense de Surf (ACS) -, Flavio Boabaid, Rodrigo Viegas, Alexandre Veiga, Rafael Becker, entre tantos outros“, como destaca Patrícia.
“Depois que a mãe ficou bem conhecida, saiu no Esporte Espetacular, naquela revista, a Manchete, que foi lá no palanque fazer uma reportagem com ela, e na Regina Casé também. Mesmo com essa fama, a gente não tinha dinheiro pra construir a nossa casa na época. Aí o Bira – Schaufert, presidente da Fecasurf à época -, trouxe uma autorização, fez abaixo assinado e conseguiu o material pra construir uma casa da Cohab“, conta Patrícia.
Mesmo fazendo parte da tradicional história da praia da Joaquina e de Florianópolis. Patrícia não conseguiu reverter a situação judicial da casa da Vilma, após o falecimento dela: A famosa casa da Vilma será demolida, ainda de data certa, neste mês de agosto, segundo Patrícia, “A casa lá da Joaca será demolida este mês. Não pude terminar de fazer. Fui negada pela prefeitura. que nunca ajudaram a praia. A história da minha mãe também esqueceram. Vida é injusta, pensei. Pode destruir!!“, comenta Patrícia.
Bira Schaufert destaca como foi a colaboração da Fecasurf e lança um desafio ao Prefeito Gean Loureiro
Ex-presidente da Federação Catarinense de Surf (Fecasurf), Bira Schaufert, conta como foi a importante colaboração dada; “Entre 1991 a 1994, mantive a Vilma como funcionária do terminal turístico da Joaquina, que era administrado pela Fecasurf, recebendo um salário para ajudar nas despesas da sua casa. Em 1992, consegui firmar convênio entre Fecasurf e Cohab para construção da casa dela na praia. Tirei ela do palanque e a coloquei numa casa, e a mobiliei. Sempre coloquei ela como secretária dos eventos que organizei lá, para sempre ter uma renda extra. Acho que fiz o possível para ajuda-las“.
Bira lembra que muitos ainda podem ajudar, e lança um desafio para o atual Prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, “A Patrícia precisa da nossa ajuda. E diria que todos aqueles frequentadores da Joaquina, que tem boas condições financeiras, poderiam ajudar-la ainda. Todos têm condições para isso, porque essa galera tomava um ‘cafezinho’ sempre, com ‘bolinho’, guardavam coisas, chuveirinho, etc… todos podem ajudar em memória da Vilma. E ao Prefeito Gean Loureiro, o apelo para uma moradia popular para filha da Vilma, que nasceu na Joaquina e um dia já teve sua casa lá”.
Da solidão à Valentina: Longe do mar, Patrícia luta para se levantar, criar a filha e sonha com sua bike para trabalhar
Após o falecimento da Vilma, Patrícia quase se entregou: “Depois de tudo? A verdade?! Fiquei meio sem alma. Eu morri, pensei, assim não vivo. Deixo a vida levar. Eu perdi tudo. A pessoa que mais me amava. Eu era feliz demais. Ela era mãe de todos, adorava cuidar das pessoas mesmo não sendo filho dela. Vilma era alma da praia, você sabe como era ela!!“, conta.
“Aí, em janeiro, depois que a mãe faleceu, eu fiquei deprimida, tentei me matar. Estava muito ruim, muito sozinha. As pessoas se afastaram de mim. Aí eu pensei, vou viver perto dos meus tios, lá em São José, onde pago aluguel e crio a minha filha. Não deu muito certo e a minha vida não é mais a mesma. Hoje eu só não vou pro fundo do poço porque tem a Valentina, que tá com três anos e quatro meses, me ajuda, e porque ela me dá força. Ela diz sempre que vai cuidar de mim. Ela é muito parecida com a minha mãe“.
Desde então, com dificuldades para conseguir emprego, e sem conseguir uma vaga em uma creche próximo de onde vive, a filha da Vilma decidiu trabalhar em casa, e montou uma ‘vakinha virtual’ – ver abaixo -, para comprar os produtos que necessita e conseguir adquirir uma bicicleta para levar e trazer Valentina da escolinha, e no meio do caminho vender seus doces.
“Eu só quero comprar os produtos, ai consigo vender. Pra criar minha filha. Porque trabalho não tenho conseguido. A creche é muito longe de onde moro. Eu levo e busco ela todos os dias. Aí tive a ideia, fazer doces e sair vendendo aqui na área na hora que ela estiver na escolinha. E se tivesse uma bike dessas monto meu pequeno negócio. Quero vender coisas boas. Assim terei mais clientes.”, conta Patrícia.
Diante das dificuldades que a filha da Vilma passa hoje, e do que representou sua mãe para tantos e tantos surfistas – e aí se incluem atletas nacionais e estrangeiros e empresários do surf -, de tanta bondade que elas representaram na história do surf nacional, e da presença da Vilma em sua neta Valentina, cada doação ou solidariedade é bem vinda nesta hora.
Como realizar as Doações:
Pelo site da Vakinha Virtual, clicando aqui.
Ou direto na conta: Banco Brasil
Agência 5255-8
Conta corrente 12.7701
Patrícia Aparecida de Freitas